12 de fevereiro de 2009

"Africa...terra de emoções"

Hoje, quero mostrar-vos uma narração deslumbrante de uma viagem que uma pessoa minha amiga fez a África e da qual fui testemunha num pequeno período de tempo.
Fica mal um prefácio nestas palavras porque não acrescentam nada às emoções que elas nos transmitem! Transportam-nos ao imaginário do nosso conhecimento e levam-nos á grandeza de quem ama a vida e a vive com um entusiasmo de infância.
Porquê?! Das suas palavras ressalta um princípio evidente ao ler este texto: o de nunca ceder perante os desafios da vida. “A vida teima em me desafiar”, assim podereis ouvir a determinado momento!
Sinto o realismo nas suas palavras e a paixão nos seus sonhos. Sobressai um coração do tamanho do mundo e o desejo de partilhar “todas as emoções no momento que recordarei com carinho”.
Em conclusão: Uma observadora atenta da vida, aconteça ela onde for!


África … Terra de emoções

“… o amor para ser amor, tem de estar associado à dor…”

Madre Teresa de Calcutá


Tanto se fala do Amor, tanta gente pensa no Amor, tantos se dizem capazes de Amar, mas será isso o Amor verdadeiro?
Observei, cheirei, senti, vivi, falei com gente que nada tem para amar senão a sua terra, uma terra cheio de cores e emoções.
AFRICA! Tanto se fala de África, mas será por se amar? Terra de paixões! Eu sou, confesso, uma eterna apaixonada por África.
As emoções são tantas, as aventuras imensas, foram dias de eterna saudade de uma nostalgia que me envolve e me trás recordações que ao fechar os olhos consigo sentir como se ainda por lá estivesse.
Recordo Maputo, onde, sozinha, percorri as ruas, onde observei como me olhavam os locais, com um olhar de mistério e curiosidade a mesma curiosidade com que eu os olhava e tentava imaginar se teriam um sorriso tão aberto e claro, se estivessem noutro país.
È uma cidade de contrastes, onde se preserva o português, onde se respira Portugal.
Recordo o Carvalho, barman do hotel que timidamente conversou comigo, tenho saudades do Sr., Lázaro, homem de tom muito escuro, idade avançada, guiando seu táxi, em que o desalinhamento da direcção se confundia com o asfalto esburacado, onde no desenrolar da conversa manifestou a sua enorme saudade dos tempos em que os brancos “portugueses” permaneciam por lá, e solicitando, implorando para voltarmos, conscientes das suas necessidades, não se envergonha em pedir para regressar e recomeçar.
Tal sinceridade e vontade, deu me uma enorme vontade de ficar, e começar tudo do zero, mas … quiçá.
Não irei falar dos contactos e portas abertas, que deixei por lá, em termos profissionais, isso no seu tempo e a seu tempo será descrito.
Voo agora, para o interior, onde de novo sozinha vou poder apreciar como existem pessoas capazes de serem autênticas, simpáticas, cordiais e muito divertidas, refiro-me à viagem de avião que fiz para Nampula.
Chamava-se Solly, sul-africano, idade 35 anos, mestiço, tornando uma viagem chata e aborrecida, numa viagem alucinante e divertida.
Rapaz bem-humorado, falando apenas inglês, que em poucas horas contou sua vida de forma descontraída, dando oportunidade a si mesmo de conhecer um pouco mais da realidade estrangeira, a nossa realidade portuguesa.
Termina-mos nossa viagem com um sentimento comum, um dia iremos nos encontrar, algures no mundo…
Finalmente a emoção, misturada com a comoção, o reencontrar de um grande amigo, um amigo que apesar de não ser de sempre, será para sempre.
O abraço, o beijo, o sorriso, o nervosismo, todas as emoções num momento que recordarei com carinho.
As formalidades, com os camaradas e amigos que ao fim de pouco tempo foram quebradas e passaram a ser cumplicidades.
O almoço num local digno de um romance literário, quadro pintado a pastel, onde o longe se mistura com o perto, cores fortes, equilibradas, o verde, o azul, o cinza dos Montes Nairuko, a represa criada, a cascata que grita em correr, mas que se encontra aprisionada às necessidades do homem.
As estradas, os caminhos, as pessoas que se misturam com a natureza e a 1ª visão do Indico – Nacala, Praia Fernão Veloso.
Palavras trocadas, conversas mantidas e interrompidas, retomadas, mas depois o silêncio do mar ao me aproximar, isto é África.
Cada momento, cada pedaço, cada conversa, as mesmas personagens, a sensação de já ter vivido realidades idênticas, de ter respirado aquele ar, o “cheiro” a terra, o calor, o azul do mar que se mistura com o céu e o inesquecível pôr-do-sol.
Momentos de diversão, de alegria foram passados na companhia dos “3 duques”, cavalheiros, gentis, cordiais e acima de tudo com muita alegria, foram as misturas perfeitas para uma sintonia perfeita, quase poderíamos, caso eu tivesse jeito para a música, constituir um quarteto de “Jazz”.
Amantes da música, da dança, da diversão, da simplicidade, foram momentos pelos quais estarei sempre grata e honrada por ter partilhado.
Grata ao V.R. pelo empenho em agradar e contribuir; grata ao D.O. pela confiança e amizade; grata ao N.L. pela irreverência, loucura e diversão.
Recordo o barco envelhecido, a vela remendada, deslizando no silêncio do mar por entre os mangais, a cor azul cristal do mar, a água morna que nos impele a entrar por ela, sem lembrar que não somos animais daquele habitat, mas que nos envolve e faz esquecer que somos estranhos naquelas terras.
Uhhhhm… como ainda sinto o vento quente, a secar o suor e sal que teimava em escorrer pelo meu corpo, enquanto sentada no alpendre, contemplava e desfrutava a paisagem e companhia do Empreendimento Turístico das Chocas e tentava imaginar como seria, à mais de 30 anos…como famílias se organizavam nos fim de semanas e rumavam para as Chocas, com o objectivo de passar o fim de semana, conheço relatos desses programas, mas estar no local, sentir a imensa energia que a natureza envia, não se consegue explicar através de palavras, mas a sensação e as imagens são por si só mais do que suficientes.
Agora percebo o olhar profundo, o sorriso aberto do R.L. que durante a infância viveram esta realidade e falam dela com tanta saudade, percebo a delicadeza, a timidez e a clareza na forma como o R.C. lida com os que gosta, eu senti isso e lembrei dos vossos relatos como se fossem meus também, eu senti a paixão neste lugar conforme vocês a descreveram, apenas olhei com tristeza naquilo que a ilha se transformou, não o que vocês viveram, mas como vivem eles agora.
A “calamidade”, amontoado de gente, amontoado de peças, o abordar, o abalroar, o choque, confesso senti-me sufocada por momentos pela ansiedade das gentes, a quererem vender, poucas vezes me sinto assustada, mas naquele momento foram minutos de pleno pânico que tentei de alguma forma não demonstrar e que após breves minutos foram ultrapassados.
O calor do mercado é imenso, a mistura de cores fantástica, a mistura de artefactos a vender é calamitosa, foi uma experiência de calor humano muito intensa e divertida, o escolher das peças, o discutir os preços, e aí dou o mérito ao ilustre N.L. que tão bem lida em situações de negócios, parabéns!
Por fim, a despedida para uns, um até breve para outros, e um ADEUS, não a África, não há natureza, não ao encanto, mas ao desalento, à tristeza, à desilusão.
Kruger Park!!! Savana na sua mais pura realidade, recordo os tons palha, as gazelas que se misturam com a vegetação seca, a girafa que elegantemente se passeia pelas planícies imensas, o elefante com os seus tons cinzas e negros, mas com o seu olhar terno, as estradas de cores quentes, de terra cor de fogo, o calor que queima, e locais onde nada se passa e tudo se transforma…
Lagos de águas espelhadas, onde as margens se reflectem na água, onde os animais deslizam e coabitam sem se incomodarem com os intrusos.
O silêncio, e de repente o som da selva, o pássaro que teima em chamar, o hipopótamo que fala, a tartaruga que vem cumprimentar, observei atentamente e fiquei triste como nós humanos perdemos qualidades tais como, o falar, o chamar, o cumprimentar e o coabitar pacificamente, que no comum reino da selva é prática comum.
Muito teríamos a aprender com a natureza, muito poderíamos aprender com África, continente que vive sem nada, mas que sobrevive e é FELIZ.
Amei, percorrer quilómetros de Savana, subir aos montes e contemplar uma imensidão de vida natural, uma terra que aparenta secura, mas que jorra alegria.
Aventura! Loucura! Foram momentos de pura adrenalina, a condução de um jipe, por terras e estradas onde o asfalto remonta à época dos portugueses, onde os buracos se misturam com as pessoas, em que os carros reduzem as dimensões quando se cruzam, em que se fecham os olhos e por vezes se reza, mas que permitiu viver a realidade do interior, a pobreza, a miséria, a timidez, o medo.
O mar, o fundo do mar, a fauna marinha, as espécies por mim desconhecidas mas que tranquilamente deslizavam entre as rochas, num turbilhão de cores, de atropelos, a tentativa de captar tudo em movimento, o perder-me no fundo do mar, onde um dia perdi o medo.
A vida que teima em me desafiar, a ir mais longe, um passo de cada vez mas que nunca hesito em alcançar, o “tubarão Baleia” a sua grandiosidade aliada à elegância, à majestade dos mares, beleza ao se movimentar, e suavidade ao deslizar, retrato que jamais nenhum artista conseguirá captar, tive o privilégio de captar na minha memória, tive o privilégio de sentir a pele se revolver, ao avistar tanta vida, tanta beleza.
Tive o privilégio de usufruir de um “mundo do silêncio” onde a beleza é única, onde o imprevisto é constante, onde a curiosidade supera o medo.
Todas estas aventuras, todas estas emoções, são características de África, terra sangrenta, cor de fogo, com contrastes de azul celeste, de paixões e amores.
Os meninos da Barra, ainda tenho presente a imagem dos seus olhos, meninos perdidos, correndo atrás de nós, ansiosos, de olhar miserável, solicitando, implorando, esticando o braço, dando a mão e pedindo algo, que até hoje não percebi o que era, mas que não consigo esquecer sua aflição, seus olhos que não paravam, sua figura subnutrida, esta é a faceta de África que tanto mexe comigo, que tantas emoções reproduzem em mim, que tantas vontades surgem sem racionalidade.
Povo sofrido, mal tratado, negligenciado e acomodado, sem vontade própria de lutar, sem prazer de evoluir, sem querer se transformar, mas sempre com um sorriso aberto e cristalino.
Por fim, um até sempre a África, um hei-de voltar, pois levei um pedaço deles, deixando um pedaço de mim.
Lisboa, 14 de Abril de 2008
(Viagem a Moçambique e África do Sul, em Abril/2008)